O derramamento de petróleo no mar é um problema ambiental grave. No entanto, o petróleo é muito menos prejudicial no mar do que na costa.
Portanto, a ação mais importante é interceptar e remover uma mancha de óleo ainda no mar.
Essa operação pode ser realizada por meio de navios especialmente equipados para capturar a mancha ou quebrá-la com dispersantes químicos ou biológicos – com grandes ressalvas sobre esses dispersantes que podem prejudicar mais do que ajudar.
Quando o petróleo chega ao litoral, a grande questão se torna qual é a melhor maneira de salvar vegetação e animais atingidos, minimizando os danos ao ecossistema sem aumentar o impacto ambiental. ⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀ ⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀
O que fazer quando o óleo chega na praia?
Uma vez na costa, a prioridade é clara: remover o óleo das praias o mais rápido possível. Se for levado de volta ao mar ou enterrado na areia, o óleo poderá causar mais danos em outro momento ou local.
Sem intervenção humana, a recuperação dos ambientes pode levar muito mais tempo, mas vale ressaltar que limpezas agressivas podem causar mais danos que o próprio petróleo.
Por isso, a limpeza das praias é idealmente feita manualmente. Pessoas com pás e peneiras são as únicas ferramentas sensíveis o suficiente para remover o óleo enquanto protegem o solo e os organismos ao redor. ⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀ ⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀ ⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀ Infelizmente, na maioria das vezes não é possível alcançar todos os lugares afetados e, por isso, existem áreas prioritárias de maior importância ecológica que exigem medidas especiais para a proteção e preservação – como manguezais, recifes e estuários.
Por isso é tão importante haver planejamento e ações rápidas de resposta para proteger esses ambientes!
O que proteger primeiro?
Fornecer, de maneira rápida e objetiva, as informações necessárias para o planejamento das ações de resposta a vazamentos de óleo mais efetivas – esse é o objetivo geral das Cartas de Sensibilidade Ambiental ao Óleo (Cartas SAO). As cartas SAO auxiliam na redução dos impactos ambientais causados por vazamentos de óleo e orientam os esforços de contenção, limpeza e remoção do óleo, por meio da identificação:
i) da sensibilidade dos ecossistemas costeiros e marinhos,
ii) de seus recursos biológicos e
iii) das atividades socioeconômicas nas áreas mapeadas.
Essas cartas classificam a linha de costa de quase toda a costa do Brasil de acordo com o Índice de Sensibilidade do Litoral (ISL) que varia em uma escala de 1 a 10, sendo quanto maior o índice maior a sensibilidade.
Conforme mostram as imagens. Podemos ver que os ambientes mais sensíveis (em vermelho e laranja) são os manguezais e planícies lamosas - encontrados principalmente nas baías e rios - e os recifes de coral que bordejam a costa. Esses ambientes exigem medidas prioritárias e especiais para a proteção e preservação do meio ambiente.
Entre outras características, esses ambientes apresentam:
- Elevada importância biológica;
- A remoção natural do óleo ocorre de forma extremamente lenta, pois são abrigados da ação das ondas e, as estruturas vivas, como raízes de mangue e corais, funcionam como armadilhas de retenção de óleo;
- A lama e a dificuldade de acesso tornam a limpeza, muitas vezes, impraticável e as tentativas de limpeza podem introduzir o óleo nas camadas mais profundas e agravar o dano.
O petróleo é tóxico?
O petróleo é um material tóxico que pode causar graves danos onde é derramado. Esse dano pode ser maior ou menor em função do ambiente em que se encontra, de como um organismo é exposto e por quanto tempo.
O objetivo central da resposta a derramamentos de óleo é reduzir esse dano, mas quais são os principais danos do derramamento de petróleo no mar?
- Existem os danos físicos que ocorrem por sufocar algumas espécies pequenas de peixes, invertebrados, crustáceos, plantas, entre outros. Além de cobrir penas e pelos de animais, reduzindo a capacidade de pássaros e mamíferos de manter a temperatura corporal e de se locomover.⠀⠀⠀⠀⠀⠀ ⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀ - Existem os danos por intoxicação química que estão associados a dois componentes importantes do petróleo bruto: compostos orgânicos voláteis (COVs) e hidrocarbonetos policíclicos aromáticos (HPAs). Ambos podem ser altamente tóxicos e carcinogênicos quando inalados ou ingeridos.
Os COVs são bastante voláteis e evaporam rapidamente enquanto o óleo flutua na superfície do mar. Por outro lado, os HPAs podem persistir no ambiente por muitos anos, podendo prejudicar os organismos por muito tempo após o derramamento do óleo. A inalação deles resulta em irritação do trato respiratório e narcose em mamíferos - incluindo pessoas - e aves. A intensidade da intoxicação varia com o grau de exposição.
O petróleo pode provoca danos neurológicos em peixes jovens, alterando sua percepção do entorno e tornando-os mais vulneráveis. Os caranguejos e siris também acumulam toxinas dos hidrocarbonetos de petróleo e dos produtos dispersantes que, teoricamente, são utilizados para conter o problema do vazamento de óleo.
Os moluscos e outros animais do fundo marinho, como os corais, são acumulam rapidamente os poluentes em seus organismos. Nos moluscos bivalves, como as lambretas e mexilhões, que são excelentes filtradores da água do mar, as toxinas se acumulam nos tecidos, provocando doenças que inibem sua locomoção e iniciam a necrose e neoplasia.
Nas ostras, a presença de óleo aderido ao sedimento no fundo do mar pode impactar gravemente o processo reprodução e larvas nas fases iniciais. [saiba mais]
Os derramamentos de óleo também afetam as atividades costeiras econômicas e as comunidades que exploram os recursos do mar. Diante do desastre ambiental das manchas de óleo no litoral do nordeste, precisamos agir e cobrar ações. ⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀ ⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀ ⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀ Da onde vem o petróleo?
Enquanto boa parte da população e o governo se pergunta qual a origem do óleo nas praias do Nordeste, o óleo se espalha.
Desde o dia 30 de agosto, a chegada de densas manchas de óleo no litoral nordestino vem sendo registrada. Já se passaram dois meses e medidas efetivas para evitar que o óleo alcance regiões cada vez mais extensas e sensíveis do nosso litoral ainda não foram tomadas.
Esse desastre ambiental coloca em risco os organismos marinhos e toda a população costeira, especialmente as populações vinculadas à pesca e à mariscagem.
São as comunidades mais vulneráveis, que dependem diretamente dos recifes e manguezais, que pagam essa conta da forma mais cruel – tendo seu sustento e sua saúde ameaçados.
Mas o impacto à pesca, ao turismo e à saúde pública vai muito além disso, afeta todo o país e pode durar muitos anos!
Segundo o Plano de Contingência Nacional (PNC) de 2013: “Enquanto não identificado o poluidor, os custos relativos às atividades de resposta e mitigação serão cobertos pelo Poder Executivo Federal.” Está na lei. Compete ao MMA, em conjunto com IBAMA, Marinha, ANP, entre outros, agir de forma efetiva para mitigar os danos.
Não sabemos o quanto de óleo ainda está por vir, mas sabemos que as correntes marinhas e os ventos estão transportando esse material cada vez mais para sul. Agir rápido é crucial para evitar danos ainda maiores nos ecossistemas marinhos. Vamos esperar chegar no Parque Nacional Marinho dos Abrolhos? [Saiba mais sobre as correntes do litoral brasileiro]
Por fim, recomendo assistir a conversa muito interessante sobre o petróleo nas praias do nordeste que participei junto com Rodrigo Leão, William Nozaki e Silvio Bava para o Le Monde Diplomatique Brasil
✒ Escrito por Mariana Thévenin